Ameixas

Posted on 20 de Julho de 2016
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Soprou o vento fresco no final desta tarde de verão,
No céu ainda claro já desponta a lua em toda a sua exuberância,
No meu peito um vazio e uma inquietação,
Que é isto que incomoda-me tanto?
O mundo é sua ganância.
Vi no noticiário crianças com fome do outro lado mundo.
Ganhei do meu vizinho uma quantas ameixas do seu pomar que de tantas caiam ao chão.
Ah, seria tão bom dar umas ameixas para aquelas crianças do noticiário.
No meu mundo a abundância,
Em seus mundos a escassez.
Quando criança, a noite, dormia aterrorizado com o barulho dos trovões,
Meu Deus como dormem estas crianças aos sons das bombas e canhões?
Não há ameixas do outro lado do mundo, pois a guerra não lhes permite plantar, nem colher.
Os donos da guerras comem ameixas trazidas de outras terras,
Não lhes importa que os outros não tenham o que comer.
Como a vida seria mais agradável com vizinhos que trocam frutas, doces e pão!
Nada de ganância, nada de violência, nada de religião.
Onde houver medo, não pode haver liberdade
E sem liberdade a felicidade é vencida pela angústia do coração.
Sou uma alma angustiada pela angústia dos meus irmãos.
Ensinaram o menino a matar,
Ao invés de ensiná-lo a subir nos pés de ameixa.
Uma ameixa sabe tão bem!
Uma morte sabe tão mal.
– Deixa esta arma menino, sobe aqui neste galho, colhe aquelas lá do fundo que são as mais doces.
Enquanto não houver ameixas para todos,
Não haverá paz.
Enquanto os meninos não aprenderem a subir em árvores,
Não conhecerão a doçura da vida,
E nem eu encontrarei fim para minha inquietação.